Apesar de o forró ser o estilo musical das festas juninas, podemos dizer que aqui no nordeste dançamos forró o ano inteiro. Mas, se é fácil para nós cair na festa e dançar sempre, é difícil classificar as diferenças existentes entre tudo que dançamos e classificamos como forró. O que seria o xote? O que seria o baião? Acho que é coisa que nossos pés e quadris sentem, nossos ouvidos reconhecem, mas é difícil traduzir em palavras.
Se a gente pesquisa, as divergências entre pesquisadores nos confundem, os compassos binários e quaternários se misturam na nossa cabeça e podemos não chegar a muitas conclusões. Por isso, estamos aqui, e viemos tentar, sem complicação, mostrar como é que é o forró, o xote e o baião.
Forró
“Eu fui dançar um forró, lá na casa do Zé NaboSegundo as pesquisas mais recorrentes, o termo forró deriva da palavra africana forrobodó, lugar onde acontece a festa, a algazarra. No século passado, a imprensa já documentava o local onde aconteciam os bailes populares como o lugar do forrobodó, forrobodança, fobó.
Nunca vi forró tão bom, nessa noite quase me acabo”
E nesses lugares, se dançaria e se tocaria os mais diversos ritmos nordestinos: baião, xote, xaxado, côco e quadrilha. Nas letras das musicas de Luiz Gonzaga, como “Forró de Zé Então” ou “Forró de Mané Vito”, o termo forró indica mesmo o lugar onde há a festa, a diversão.
Com o tempo, o termo ganhou uma amplitude maior e passou-se a se constituir como gênero musical, que contém uma variedade de ritmos e fusões musicais de muitos dos ritmos nordestinos, como a toada, o rojão, o carimbo, o merengue, o baião e o xote.
Baião
“Eu vou mostrar pra vocêsO baião teria se originado do dedilhado de viola, denominado baiano, que era executado na introdução e no desfecho dos desafios de cantador nordestino. Somado a isso, influências européias da cantiga medieval tocada pelos cegos nas feiras do nordeste. Há quem diga que também há um pouco de fado português e do maracatu africano. O baião é um ritmo mais animado, tanto que a primeira aparição do termo é na musica dos anos 20 “Samba Nortista”, do pernambucano Luperce Miranda, como se fosse uma versão regional do gênero brasileiro.
Como se dança o baião
E quem quiser aprender
É favor prestar atenção”
Até os anos 40, era um ritmo marginalizado, tocado apenas em pequenos lugares no nordeste. Mas Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira consagraram o ritmo e fizeram o Brasil inteiro dançar, sendo o ritmo mais importante e prestigiado do país entre os anos 46 e 54.
Tanto o baião quantos os outros ritmos nordestinos não tinham instrumentos fixos nem quantidade determinada de músicos. Mas, por motivos de barateamento e de necessidade de caracterizar o ritmo tanto visualmente quanto musicalmente – facilitando, assim, a difusão do ritmo Brasil afora, que se convencionou o trio: sanfona no centro, zabumba do lado direito e o triangulo do lado esquerdo. Essa formação também vem à nossa cabeça quando pensamos no nosso forró pé-de-serra.
Mesmo existindo o modelo tradicional, há algum tempo tanto o baião quanto o forró vem sendo interpretados com outros instrumentos, como a guitarra elétrica, o baixo e o teclado.
Xote
“Minha morena, venha pra cáO xote tem origem europeia, e veio para o Brasil na época da Regência - era a dança dos salões aristocráticos. Ao final do século XIX saiu dos salões urbanos e foi parar nas regiões rurais, sendo incorporado e adaptado ao que por aqui já existia. Pesquisadores afirmam que Luiz Gonzaga dizia que o xote veio sim do estrangeiro, mas que no sertão eles criaram o xote malandro, o xote pé-de-serra, o xote de forró.
Pra dançar xote, se deita em meu cangote”
Quando escutamos uma batida mais lenta, mais marcada, um ritmo cadenciado que dá vontade de encostar a cabeça no par da dança, pode acreditar que você esta dançando xote! É o caso das famosas músicas “Riacho do Navio”, “Xote das meninas” e “Cintura Fina”, do nosso rei Luiz Gonzaga, que apesar de rei do baião também é um dos principais interpretes do xote, junto com Dominguinhos e Marinês. E pra dançar o xote é só de deixar levar pelo ritmo, deslizando os passos, dois pra lá, dois pra cá.
Não vá se perder!
Em resumo, nosso país é um caldeirão cultural e juntamos as influências de todos os lugares e construímos uma coisa só nossa cheia de particularidades, energia de sobra, ritmo, nuances. Esse é o forró, que desde sua origem, já misturada, já passou por diversas renovações, mudanças, incorporações. Além do forró pé-de-serra, considerado tradicional, temos também o forró universitário e o forró eletrônico.
O baião também veio de outras tantas misturas, e em resumo podemos dizer que é um ritmo mais acelerado, mais apressado, mais avexado. Já o xote é uma pitada de melodia alemã, cheia de cadência e graça, adaptada ao gosto (e ao quadril) dos brasileiros, uma musica mais bailada, pra dançar junto.
Mas no final das contas, o que importa é o festejo, a diversão e a alegria. É como se o nosso corpo pedisse pela diversidade dos ritmos, ora querendo dançar de forma mais vibrante, ora de forma mais relaxada. Mas é tudo festa, é tudo São João: é forro, é xote, é baião!
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